PARA QUEM AMA GATOS

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domingo, 26 de julho de 2015

Saída da zona de conforto




Sempre que eu paro para pensar, é um pesadelo: descubro que preciso ser.  E para eu ser, preciso ir... Meu ser tomado por dúvida, vontade, sandice, solicitude, devaneio, entorpecimento...
E quem foi esse tal que inventou que é preciso ir, seguir, começar, retomar?
Droga de vida, que não me deixa aquietar num canto e me acomodar no ápice da minha preguiça. Preguiça a la Macunaíma mesmo, preguiça de ter que fazer tudo, com um buraco negro do caos, levando para o nada.
Nesse abismo indeferível, ali estou bizarramente incongruente; aqui se faz, aqui se paga. E o preço é mais alto ainda quando você não fez nada por si.
- Droga de vida! - agora sou eu, gritando.
Tento fazer algo. O quê?, uma vozinha agora covardemente miúda me indaga.
É urgentemente necessário sair da leseira de apenas ficar e ir à vida, seguir em frente, TENTAR!
Daí paro para pensar mais ainda, se corro o risco de ser feliz se eu continuar na labuta de "mudar o rumo dessa prosa".
E dá-lhe de questionamento, dá-lhe de humanamente me esgueirar para a introspecção, dá-lhe  de me certificar de que há certeza, dá-lhe de me desfazer na areia do tempo e espaço, e voltar para o ninho acolhedor, aquele da recepção conveniente, embora de alto teor de amargo no ser.
Alguém por aí inventou o preciso ir.
Preciso ir por quê? Por que é algo a ver com o fenômeno da natureza, qual trovoadas e chuvas em tardes torturantes de calor-Rio? Será que é preciso seguir em frente por que há a esperança de encontrar alguma surpresa Kinder Ovo ali na esquina, surpresa dispensável quando descobrimos a incógnita? Ou seria por que todo mundo - Ai, que preguiça...  - nos exige um movimento crescente indo ao longe? Ou talvez por que - Ai, que preguiça... - "gente" rima porcamente com "ir para frente"?
Detesto formar a massa que faz o bolo do  "geral faz isso" porque, como diria Nelson Rodrigues: "A unanimidade é burra". Mas...
... Droga de vida!
Se eu não sigo para frente, o que posso fazer comigo? É me deixar morrer, esquecer, tomar aquele remédio adverso da memória, evitar o jogo mnemônico, correr das palavras cruzadas, causar propositalmente o Mal de Alzheimer, só para deletar da mente quem sou, só para não precisar ir, não fazer parte da "unanimidade burra"?
Ai, que preguiça...
Algo em mim, talvez o sexto sentido - talvez eu tenha errado a contagem e esteja no milésimo -, me impulsiona para esse ir, não porque "todo mundo" diz, não porque eu decorei o texto já na tenra infância.
Com honestidade, um certo egoísmo, um ataque de eu, me retruco com maldade, maledicente: "É porque eu QUERO IR!"
Vem lassidão de ideias, chega correndo o pensamento do espúrio relaxamento, sobrevoa nefasto o íntimo pulsante de "deixar pra lá".
Mas é ele, esse "EU QUERO!",  que me liberta das amarras da estagnação.
Penso em ir para frente porque é bom demais, mais que suficiente, esse advérbio de intensidade me socorrendo, poder ver a vida lá adiante, pisotear as agruras, me esparramar nos braços do que ainda está por vir...
Começar do zero ou pegar os fios que ficaram soltos, formar novas vestes para cobrir a minha alma de júbilo.
EU QUERO  me permitir uma nova oportunidade.
EU QUERO me aventurar em rumos inéditos, talvez nem por alto imaginados antes.
EU QUERO experimentar o que ainda há de eu construir para mim; a vida pode me sorrir, com cores fartas, com a perene dúvida de não saber se irá dar certo.
EU QUERO tentar.
Sim, EU QUERO TENTAR!
Quando penso que ser é ter que me questionar, me calo com idoneidade, com a plenitude da incerteza bailando ferina conquanto fascinante no meu eu.
EU QUERO, sem cobiça, nem omissão. Limpo, claro, certo, imediato.
EU QUERO!, qual resposta infantil.
O mundo só evolui quando é tomado por perguntas, porque seria muito entediante todo mundo explicar todo o mundo...
Vou lá, chegarei na frente e rumarei para esse desconhecido tão inebriante.
Não pretendo errar além da conta, porém, me conscientizo que é arriscado isso ocorrer.
Tentar me recompor de novo; tenho medo. E sei que é humano temer.
NÃO TENHO MEDO DE TER MEDO!
Ficar naquela paralisação me faz mal, caio na rotina de sofrer por não ter tentado.
Vou lá, darei um pulinho no futuro e fico por ali mesmo.
Sou incansável: EU NÃO QUERO parar!
E no meu subentendido, aquele subentendido do meu eu, aquele que ninguém pesca, ninguém tasca - Eu vi primeiro! -, entrementes sorrindo, no mistério do ser, sem travas para me permitir, sem torrente, sem torre, "por lugares incríveis",  eu chuto pra trás qualquer alusão ao comodismo.
Descubro sem vergonha alguma de que agora NÃO POSSO parar de ir.
Sim, agora, - Ufa! - NÃO QUERO deixar de tentar melhorar, de tentar conquistar a minha vitória enquanto ser humano.
NÃO QUERO esperar acontecer porque a hora é essa, seja lá qual for que hora é "essa"...
NÃO QUERO olhar o relógio. Tenho "todo o tempo do mundo".
NÃO QUERO estabelecer metas. Salvaguardar desatinos me é, por si só, bem convincente.
NÃO QUERO me frustrar: "Gatos escaldados de água fria têm medo", mas decidi que a não-dor é também sofrimento.
Corro com pressa, com método e coração em frenesi. Ele me chama para o desbravamento. Ali, para ele onde me convida a emoções diversas. Irrequieto coração, que reestabelece  a queda para a ternura; que segrega mistérios a se conhecer. Prazer, meu nome é BUSCAR!
Ai, que preguiça?
Por favor, pense! Continue pensando. Só não pare...

(Imagem:
Fonte desconhecida
Edição de imagem:
http://www.facebook.com/FRASESMARYMIRANDA)

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